“Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”, dizia o ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, há muitas décadas. A máquina de fake news alimentada por ele e seus aliados era, já naquela época, poderosa e opressora. No entanto, quase um século depois, mentiras continuam sendo apenas mentiras, ainda que sejam repetidas à exaustão. E continuam, naturalmente, sendo usadas para os mais diversos fins. Da vantagem política ao bombardeamento de concorrentes, o uso de notícias falsas é, hoje, um dos mecanismos mais difíceis de combater.
O uso massivo das redes sociais facilita e acelera o processo de disseminação dessas notícias. Em uma fração de segundos, milhares e até milhões de pessoas passam a ter acesso a todo tipo de informação, divulgada, muitas vezes, também por personalidades famosas. Compartilhar o que chega pelo celular é um atalho curto e fácil de percorrer, sem nenhum tipo de obstáculo a transpor. Checar a veracidade dos fatos, por outro lado, parece uma estrada longa, poeirenta e repleta de curvas sinuosas e abismos perigosos.
Dentro dos muros da escola não é difícil encontrar exemplos de fake news que se espalham feito rastilho de pólvora entre estudantes, pais, funcionários. Afinal, o ambiente escolar está, antes, inserido em um contexto muito mais amplo: a sociedade contemporânea. E, estando inserido nela, está sujeito a todo tipo de intempérie que ela venha a enfrentar, inclusive as desse tipo de natureza. Se a sociedade sofre, hoje, com uma pandemia de informações falsas, ora, não seria diferente com a escola.
Repetidas mil vezes, as mentiras não se tornam verdades, mas passam a ter um impacto significativo no dia a dia das pessoas e organizações. Expostos sistematicamente a notícias falsas, estudantes de todas as idades passam a duvidar da veracidade de informações e conhecimentos compartilhados com eles pelos professores, estudos acadêmicos e até mesmo livros didáticos. É que, se qualquer coisa pode ser verdade, qualquer coisa também pode ser mentira. E essa relação de dúvida e desconfiança é bastante prejudicial ao aprendizado e desenvolvimento de crianças e adolescentes.
É da essência humana querer ouvir apenas o que agrada ao coração e, por isso, acreditar em textos, artigos, vídeos e podcasts que estejam de acordo com a própria opinião sempre será mais confortável que confrontar uma opinião contraditória. Entretanto, quando alguém se baseia apenas em informações consoantes com a própria opinião, corre-se o risco de prejudicar o pensamento crítico e tomar decisões calcadas até mesmo em emoções e preconceitos.
Faz parte do papel da escola contribuir para que a formação dos estudantes seja não apenas acadêmica, mas também humana. Prepará-los para a vida lá fora inclui dar estímulos para que eles e suas famílias compreendam as muitas dimensões existentes no mundo atual. Um mundo que é, ao mesmo tempo, o mais completo em termos de acesso a todos os conhecimentos e o mais difícil de separar verdades absolutas de mentiras escabrosas. Somente unindo forças poderemos entregar a esse mundo seres humanos íntegros, críticos e bem informados. Porque, se a mentira é, por vezes, mais sedutora, apenas a verdade, ainda que amarga, pode construir um mundo melhor e mais justo para todos.
*Celso Hartmann é diretor-executivo dos colégios do Grupo Positivo.
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